Marujo,
Agora sento-me à mesa à qual estavas a escrever antes de ver-me.
Escrevo esta carta a ti durante teu transe.
Vi-te por a fenestra no momento em que fecharas os olhos.
Gostaria eu de questionar-te sobr' algumas cousas importantes,
contudo percebo que não estás em condições sadias para que penses.
Deixar-te-ei que leia este recado após despertar. Crê em meu retorno!
Mas para que não penses que apenas embebedou-te e caíste de sono,
descrever-te-ei enquanto deliras.
O primeiro momento foi de nulidade, depois o de reconhecimento. Teus olhos pararam as contrações, depois entreabríste as pálpebras. Ainda escorreu algum vinho de tua boca e mais, e mais, e mais, e pelo nariz. Teu corpo tremulava muito rapidamente ao ponto de os fios de cabelo tremerem tanto quanto rápido. Teu rosto atrita contra o chão agora. Tu não te acordas e entra em transe mais profundo ainda.
Tu, agora, não sabes se deixa as pernas esticadas ou recolhidas, tudo parece doer. Mas dói realmente. É uma dor que se sente quando não se pode fazer nada contra si mesmo. A dor do infortúnio em que caíste quando resolveu enfrentar o Mar pela primeira vez. Sabes de tua Culpa. Ela queima e suja teu éter. Se tivésses mantido tua palavra desde o dia em que prometera a ti mesmo não enfrentar o Mar nessas Luas não terias ao menos entrado n'Água. Teus punhos agora contorcem-se ininterruptamente.
Coço minha barba e penso como deve estar um inferno dentro deste corpo sofredor. Apóio meu queixo sobre um braço que se apoia pelo cotovelo na mesa e raciocino como deve ser o Inverno dentro da tua mente. Nada flui, tudo está parado na cabeça e as imagens são monocromáticas.
Pense nisso! Após acordar, tente recordar estas sensações! Poderás conseguir lembrar. Terias então um sucesso no insucesso. Agora tua cor já não está mais azulada. Volta à consciência, se é que posso nomear desse modo!
Entrego tua pena,
Vetusto.
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